Tuesday, September 01, 2009

BREVES INQUIETAÇÕES
Como dizia os garotos podres, quero gritar até ficar rouco, quero gritar até ficar louco. Minhas recentes indignaçoes com fatos e condições de meu cotidiano estão me deixando com a pá virada. A cerveja perdeu a graça, o cigarro perdeu a graça, nada mais faz sentido, companheiros não são companheiros, a utopia não é utopia, aliás, é algo bem mais amplo e complexo que ainda caminho a entender, mas ainda não entendo e sei que ninguem entende.
Mas e agora?
Mais um período recomeça na minha faculdade, volta do cotidiano ultrajante que os currículos de saúde insistem em deteriorar a própria saúde física, mental e social de seus 'alunos'. Nâo há liberdade de estudo, não há garantia de estudo, não há qualidade de estudo. Explicitamente vejo que a universidade também não é o lugar das cabeças pensantes, críticas, curiosas, dispostas. O velho clima que ha em todo lugar, ninguem tá nem aí, aí não tá pra ninguem.
Isso angustia, isso oprime, isso azeda a boca de quem pensa que pensa e quer mudar alguma coisa nesse breve suspiro de existência. A cadeira que mais anseio próx período é a da Saúde Mental, sei que ja criei muito mito sobre as professoras e o assunto que será dado, sei que muita coisa não vai ser o que penso, mas vamos levando.
Acompanho e avanço junto com a minha turma a nossa formaçao, a turma é bastante heterogenea e complexa, como toda turma que se estuda há tempos e há tempos ainda irá estudar. Mas ela já me levou a muitas reflexões, reflexões que estariam a 15 m de altura ou mesmo nos pés de todo mundo ali. É um desafio para gentes que pensa que pensa levar alguma coisa pra gente que acha que não pensa, poxa, mas na verdade pensa, se indigna, se sente oprimido e tem sua consciencia de outras formas, saber dissernir isso da apatia e desinteresse que todos temos que é o nó. É de senso comum que o movimento estudantil insite em chamar a todos os 'bárbaros' que não são 'patrícios e patrícias críticas e pensantes', mas isso está realmente evidente em determinas atitudes e formas de ação direta que a 'vanguarda' faz com suas 'bases'. Sou mais doido ainda, não gosto de vanguardismos, tenho até medo desses sectarismos, se há uma luta, ela deve ser geral, ampla, com uma linguagem extremamente próxima à de todo mundo, justamente por essa luta ser feita por todo mundo. Mas isso é uma coisa extremamente dificil, quase impossível, mas acredito qeu as coisas se dão através do processo, do dercorrer, é caminhando a isso, que se faz isso. A transformação social para acabar com as desigualdades, impunidades e injustiças, é uma coisa que, acredito, passar no imaginário de todo ser humano. É com essa esperança que acredito nos homens, nas mulheres, nas crianças, de que outra forma de pensar, de cuidar, de amar, de trabalhar, de estudar é possível, e trata-se da maneira coletiva, aplamente coletiva, radicalmente coletiva, onde não se limite a criatividade e individualidade, onde seja escutado, discutido, rediscutido, até chegar em algo sólido. Inúmeras coisas levam as pessoas a desacreditarem sobre as mudanças coletivas e são levadas à situaçoes e açoes, como dizer..., 'reacionárias'. Isso acontece na escola? no trabalho? em casa? no no bar? no onibus? num concerto de orquestra sinfonica? Ah, em tudo. Mas e agora?

E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José ?

e agora, você ?

você que é sem nome,

que zomba dos outros,

você que faz versos,

que ama protesta,

e agora, José ?



Está sem mulher,

está sem discurso,

está sem carinho,

já não pode beber,

já não pode fumar,

cuspir já não pode,

a noite esfriou,

o dia não veio,

o bonde não veio,

o riso não veio,

não veio a utopia

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, José ?



E agora, José ?

Sua doce palavra,

seu instante de febre,

sua gula e jejum,

sua biblioteca,

sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,

sua incoerência,

seu ódio - e agora ?



Com a chave na mão

quer abrir a porta,

não existe porta;

quer morrer no mar,

mas o mar secou;

quer ir para Minas,

Minas não há mais.

José, e agora ?



Se você gritasse,

se você gemesse,

se você tocasse

a valsa vienense,

se você dormisse,

se você cansasse,

se você morresse…

Mas você não morre,

você é duro, José !



Sozinho no escuro

qual bicho-do-mato,

sem teogonia,

sem parede nua

para se encostar,

sem cavalo preto

que fuja a galope,

você marcha, José !

José, pra onde ?

Carlos Drummond de Andrade