Lídia acordou cedo aquela manhã. O céu estava nublado com alguns clarões que rasgavam de luz ruas, calçadas e casas. O banho não conseguia ser quente com o tanto de frio que fazia lá fora. A vizinhança já proclamava a anunciação desse novo dia. Latido de cachorro, galo cantando, fumaça de lenha, de lixo queimado também, causavam as primeiras sensações da contemplação da chaleira até a fervura da água. Sentada à mesa da cozinha, a expectativa lhe tomava: hoje iria a um ensaio. A panela nem suava, sabia que demorava a ferver quando se parava na frente do fogo para observá-lo. Alguns farelos de ontem em cima da mesa a incomodaram, mesmo com a mão tratou de limpar. A espera lhe aguçava os sentidos e pensamentos. Os ônibus já ressoavam as ruas, com os freios, enxergava em sua cabeça, lentamente as pessoas subindo os degraus, com o ronco dos motores, as pessoas chacoalhavam, agarrando onde pudessem, o caminho para mais um dia. Sua barriga roncava, então sacou o pão e a manteiga.
- "Onde tá o café?", perguntou-se um pouco desapontada, procurando o pote que guardava junto com uma colher bem antiga e pequena que adorava.