E depois do começo o que vier vai começar a ser o fim

Wednesday, July 11, 2018

Lídia I - "Onde está o café?"

          Lídia acordou cedo aquela manhã. O céu estava nublado com alguns clarões que rasgavam de luz ruas, calçadas e casas. O banho não conseguia ser quente com o tanto de frio que fazia lá fora. A vizinhança já proclamava a anunciação desse novo dia. Latido de cachorro, galo cantando, fumaça de lenha, de lixo queimado também, causavam as primeiras sensações da contemplação da chaleira até a fervura da água. Sentada à mesa da cozinha, a expectativa lhe tomava: hoje iria a um ensaio. A panela nem suava, sabia que demorava a ferver quando se parava na frente do fogo para observá-lo. Alguns farelos de ontem em cima da mesa a incomodaram, mesmo com a mão tratou de limpar. A espera lhe aguçava os sentidos e pensamentos. Os ônibus já ressoavam as ruas, com os freios, enxergava em sua cabeça, lentamente as pessoas subindo os degraus, com o ronco dos motores, as pessoas chacoalhavam, agarrando onde pudessem, o caminho para mais um dia. Sua barriga roncava, então sacou o pão e a manteiga.
- "Onde tá o café?", perguntou-se um pouco desapontada, procurando o pote que guardava junto com uma colher bem antiga e pequena que adorava.

Friday, June 08, 2018

Gotinhas

De gotinhas em gotinhas
Se enche um copo
Se esvazia um vazio
Se esbarrando se derrama
De gotinha e de vazio

De gotinha em gotinha
Sai lagrimas na buchecha
Se sente um sal na boca
Se beijando mata sede
Na boca e na buchecha

De gotinha em gotinha
Mesmo uma chuvinha
Pinga agua na terra
Pode molhar uma semente
Só assim o amanhã tem flor

Monday, June 04, 2018

Navegando-entre-portos

Navegando-entre-portos O que é navegar? O que é estar entre? O que é ser porto? Lugar de forasteiro Estadia de estrangeiro Fuga de paradeiro Coisas no estaleiro Estar à muitas margens Ter medo de miragens Contemplar de paisagens mesmo com pesos das bagagens Trilhar sem armas Navio sem balas Ser e estar em seguro no olho de um desassossego que chora que vai e vem

Wednesday, March 14, 2018

Dor em nós

Laço, feito de nós,
Dói, quando a corda rói,
Cai, por que a leveza se esvai,
Jaz, que uma pessoa só não é capaz
de aguentar as quedas, as dores, uma pretensa paz

Gosto da saudade que fica na boca
Cheiro que a lembrança fisga a memória
Toque aquele que arrepia em recíproco
Cenas em penumbra que as fumaças formam nuvens
Momentos de céu azul, laranja, vermelho e negro

Saltos em planetas e estrelas cadentes
Órbitas tangentes por várias gravidades
Paixão agarrada e mordida nos dentes
Escavações no vínculo e cativar
Metáforas sem rimas de um amor que chove

Acompanhando

Fuma, prende, solta, passa,
vadiagem, molecagem, traquinagem, crime,
vadio, moleque, traquina, infrator,
da vida, maloca, atraque, fraturas,
viajoso, mala, chinelagem, autuado,
flagrante, mola, trampo, tráfico,
boyzinha, brodinho, fininho, soltinho,
parça, parceiro, mano e amigo,
morto, sumido, procurado, cuidado,
cuidador, acompanhante, acompanhado, cuidado.

Perguntas da criança dentro de mim sobre o escrever

Perguntas da criança dentro de mim sobre o escrever

A rima vem de cima ou vem dos lados?
Como faz pra letra provocar?
Qual é o eco de provocação? Ação? Hão?
Onde o tempo entra pra escrever?
Uma ideia brota com o tempo ou do nada, hein?
Será que o tempo tem peso? 
Qual o fio que põe na caneta pra escrever com leveza?
Dá pra destampar a tampa do tempo?
O que será que sai de lá?
Dá pra botar o tempo no papel?
Pode desenhar o tempo sem ser com um relógio?
Como desenhar contornos sem limites?
Quero descobrir!

Tuesday, August 29, 2017

Como éramos burros em juventude?
Trabalhava tanto
que tempo para mim não havia
Questionava tanto
por coisa que um sorriso responderia
Apressava tanto
para haver tempo ao descanso
Como querer adiantar os pintos pra voltar ao galinheiro
Só depois de velho ao ver o entardecer da vida
Que lembrei que o por do sol
sozinho e manso isso faria.

Processo criativo

Um processo criativo propicia o cativar?
Pois, o que será essa oportunidade da criação
do que é a própria existência
ao ativar memórias, resistências e resiliências
cessar os pregos, cadeias, manicômios e correntes
procriando prescedentes
preparando novos mundos
na ação do agir da imaginação.

Recomeço do veio de uma veia

Esta postagem demarca a retomada de minha produção artística na poesia e contos. No agosto do ano de 2017 em meio às contra molas que resistem na residência em saúde mental coletiva.

Wednesday, August 24, 2016

Notas iniciáticas sobre os personagens

Jorge, comunista boêmio em crise com as contradições das disputas políticas em Benvirá
A Helena, embriagada facilmente embriagável, que dá pra todo mundo e é libertária nas relações afetivas mas sempre confronta-se com mesmices nas pessoas                      
Victor, o ator que tá em crise com o teatro e pensando em trabalhar em pornôs                      
Fred vai ser um jornalista amador que anda pela cidade caçando fatos mas está enlouquecendo pois só se depara com violência
Francisco era um jardineiro inexperiente, veio da periferia de outra cidade para trabalhar em condomínios de classe média baixa em Benvirá.
Maicon era um maconheiro inveterado, blogueiro de cultura canábica, mora só e planta maconha em casa.
Igor era gay, tinha uma casa com jardim, quintal e dois cachorros, sua vida era baseada em sexo e trabalho, ele trabalhava como arquiteto na prefeitura da cidade.
Madalena era uma enfermeira dedicada à comunidade que trabalha, mora numa vila agrícola próximo a Benvirá e trabalha na Unidade de Saúde da Família.
Dolores era sua filha, andava solta pela vizinhança e vivia intensamente sua infância escrevendo em seu diário.
Jorge era um cara sissudo, de olhar penetrante, tantas pessoas já comentaram sobre a interrogação nos seus olhos. Ele tinha uma escrita verborrágica que infelizmente se perdeu no tempo. Pertencia ao agrupamento político chamado Partido Comunista do Menino Jesus de Pravda (PCMJD) e participava da Igreja Ortodoxa do Marxismo Leninismo, já foi detido inúmeras vezes pela polícia em meio a madrugada quando realizava muralismos nas paredes da cidade de Benvirá.

Sunday, September 14, 2014

Sobre a distância

A distância nos faz carregar o peso da imaginada proximidade,
um peso que corresponde à inexata compreensão do estar junto.